Ѽ Capítulo 7: Vínculos rompidos  

Posted by: Venenosa

- Ai meu Deus, Mel! – Vicky gritou, tentando se soltar das amarras da maca em que estava sendo colocada para poder prestar atenção na melhor amiga que se encontrava desmaiada a poucos passos de si. Alex correu em direção à garota caída no chão e a segurou no colo, enquanto os paramédicos olhavam assustados não entendendo muita coisa.

- Vocês disseram que o chamado era para uma só pessoa. – Disse um deles, enquanto pegava um estetoscópio na maleta e avaliava os batimentos de Mel.

- E era! – Vicky gritou mais ainda, histérica, imaginando a falta de sorte de tudo isso acontecer justo no dia da sua festa do biquíni.

- Vamos colocá-la na maca reserva. – Sugeriu outro paramédico para aquele que parecia o chefe e estava dando leves tapinhas na face da Mellanie a fim de reanimá-la.

- Sim, temos que examiná-la. Pode ser grave. – Então olhou para Alex. – Ela reclamou de alguma dor? Estava sentindo algo diferente? Costumam existir sintomas antes de um desmaio.

- Não, - deu de ombros - comigo ela não comentou nada, mas eu percebi, pela aparência doente dela, que não estava nada bem.

- Ela me disse que tinha vomitado ontem! – Vicky gritou novamente, já dentro da ambulância e fora das vistas dos dois. – Disse que era intoxicação alimentar!

- Intoxicação alimentar não provoca desmaio, a não ser que seja algo muito grave. Bem, vamos ter que dar uma olhada. Coloque-a com cuidado ali, por favor. – E apontou uma das macas vazias que agora já tinha sido trazida para a rua.

~ Ѽ ~

- Ei! O que está acontecendo lá fora? – Gritou um dos homens altos no jardim dos fundos, que juntava os CD’s para poder se retirar.

- Não sei, me disseram que a Vicky passou mal e por isso teve que cancelar tudo. – Respondeu outro, mais alto ainda e careca, espichando o pescoço por cima da cerca viva para espiar um pequeno aglomerado de pessoas vestidas de branco na frente do jardim principal da mansão.

- O que aquele idiota está fazendo com a minha namorada de novo? – Kadu berrou, ajudando a afundar ainda mais o astral da festa que já tinha ido por água abaixo. Pôs se de pé e atravessou a porta de vidro do hall, buscando uma maneira de chegar até a ambulância no outro jardim.

- Quem é que vai me ajudar a recolher os espetos? – Gritou uma menina baixinha e magrela, vestida em um biquíni amarelo ouro. Parecia muito brava e ordeira.

- Eu vou, Érika! – Respondeu, prontamente, um dos jogadores do time, que puxou um dos espetos perto da beirada da piscina sem perceber que este estava dentro de um vaso de porcelana, que despedaçou em mil pedaços.
- Sua mula. – Disse a menina, nem um pouco surpresa com a falta de coordenação motora do garoto.

- Acho que já recolhemos tudo. – Constatou Léo, o careca alto do time, vinte minutos depois. – Vamos levar lá pra fora e colocar no carro. Quem vai comigo, já pode ir se mexendo, galera!

- Deixa que eu levo isso. – Disse Rafa, pegando uma das caixas de bebida que eles haviam trazido e levando-a até o conversível preto, carro do pivô do time. A ambulância, que antes estava parada próximo daquele local, não estava lá mais. Avistou Daniel ajudando a carregar as coisas, estava com uma garrafa de vodca na mão, apenas. “Preguiçoso”, pensou. – Hey Dan! – Percebeu Daniel girar a cabeça para encará-lo. – Vai de carona com o Léo?

- Vou! – Disse sorrindo enquanto se aproximava de Rafa. – Ele disse que vamos fazer uma pequena parada antes de ir para casa. – Sorriu maliciosamente.

- Aonde vamos? – Perguntou o outro, confuso. Outras pessoas começaram a sair da casa, ajudando a limpar a bagunça ou, pelo menos, a sumir com ela.

- Ele disse que vamos à casa de umas amigas, sabe como é! – Riu alto, estava consideravelmente bêbado.

- Não gostei dessa história! – Sorriu a garota de pele negra como a noite e brilhante como a Lua.

- Bibi! – Festejou Daniel ao vê-la. Correu, aos tropeços, para abraçá-la e beijou-lhe os lábios. – Não sabia que o meu amor iria aparecer aqui! – E tentou disfarçar o papo antigo.

- Olá Bianca. – Cumprimentou Rafa, já colocando a caixa no porta-malas do conversível parado ao seu lado. – O que está fazendo aqui à essa hora? Já está um pouco tarde para aparecer... Quase meia noite...

- Olá... Não, eu não fui convidada. – Sorriu amarelo para tentar demonstrar que não ligava a mínima para esse fato. – Eu estava – pausou – passando, pelas redondezas. Estava na casa da Jacky – e Rafa estremeceu ao ouvir esse nome -, queria ir embora e vim ver se poderia ir com um de vocês. – Alargou o sorriso. – Mas, espere, não achei que a festa da Vitória terminaria tão cedo... – Sibilou.

- Ah, parece que ela não estava passando bem, amor. – Respondeu Dan, beijando-lhe o pescoço. – Que bom que você apareceu...

- É mesmo? – Disse, parecendo confusa. – O que ela teve?

- Não sabemos. – Respondeu Rafael, secamente. A menção do nome de Jacky arruinara toda a sua noite. Juntado ao fato de que não conseguira ficar sozinho com Mellanie nem por quinze minutos para lhe contar, para se declarar... Seu humor estava péssimo. – Algo aconteceu com ela e com a Mellanie.

- Foi, a empregada só nos disse pra ir embora e pronto, amor. Nem nos explicou nem nada. – Daniel acrescentou, ainda lhe acariciando o rosto.

- Esperem... A Mel também passou mal? – Perguntou, desta vez, verdadeiramente confusa. Ela sabia que Vicky iria ceder à gula e comer os bombons alemães de damasco que ela, Jacky e Mandy lhe enviaram e acabaria com toda a festa, mas Mellanie? Seria ela também alérgica a damasco? Não era uma alergia muito comum, que coisa mais estranha...

- Sim. Saíram agora à pouco em uma ambulância. – Respondeu Rafa, percebendo que os beijos de Daniel estavam ficando mais fogosos, talvez por causa da falta de senso da bebedeira, e já querendo sair dali. Bianca resolveu aproveitar-se ainda mais da situação.

- Bom, que pena. Espero que fique tudo bem com o bebê. – Rafael, que já estava ensaiando uma saída despercebida, congelou no lugar, como se estivesse com os pés colados ao chão.

- Que bebê, amor? – Daniel desgrudou a língua da pele dela. Estranho como essa palavra assusta qualquer homem.

- Melzinha está grávida, não sabiam? – Perguntou, tentando simular uma face confusa, mas lutando para esconder um sorriso triunfante que insistia em não querer ir embora.

Rafael deixou o queixo cair, definitivamente não estava esperando por isso. Não, nem ao menos sonhava com tal fato. Quando poderia imaginar? Um suor frio derramava pelo seu rosto, molhando os cabelos louros e pingando sobre as maçãs da face avermelhadas. Seus sentimentos misturavam angústia e raiva. A angústia acompanhava o pensamento de que era muito jovem para ser pai. E sempre disse que amaria Mellanie pela vida toda, mas agora que “pela vida toda” tornava-se algo irremediável e sem volta, não tinha mais tanta certeza. Era uma responsabilidade maior do que poderia agüentar. E a raiva queimava quando refletia que Mellanie não quis lhe contar sobre isso, não tivera confiança para lhe dizer. Aparentemente, já contara ao colégio todo, já que sabia que ela e Bianca não eram amigas e, se ela sabia, era porque Mellanie já dissera para todos, exceto para ele. Ficou sem saber o que dizer, mas teria que descobrir até onde Bianca saberia. Talvez não passasse de boato, resolveu disfarçar e fazer a pergunta mais básica.

- Quem é o pai? – Gaguejou.

- O Kadu. – Disse, confiante, piscando os olhos cor de amêndoa.

Rafa riu alto, incrédulo. Agora tinha certeza de que essa história não passava de boato. Bianca tinha inventado tudo, não poderia ser verdade, não poderia.

- Kadu? Meu melhor amigo? - Riu novamente. Daniel, cambaleando, acompanhou a risada, mas Bianca manteve a face séria, cheia de desdém.

- Sim, o próprio. Não foi surpresa para ninguém, na verdade... Todos sabiam que o namoro dele com a Vicky já era. – Sorriu.

Rafa passou a mão pelos cabelos, preocupado. Pela primeira vez, parou de sorrir. O que ela acabara de dizer era completamente verdade. Há tempos que Kadu diz que o namoro com Vitória já estava nas últimas e que precisava de outra. O suor frio voltou a aparecer e ele, até mesmo, teve a impressão de sentir o chão se mover. Flashes começaram a aparecer na sua cabeça. Lembrou-se do último treino de basquete onde Kadu tentou convencer-lhe a não se declarar apara Mellanie, a esquecê-la. “Vai nessa que ela vai te perdoar assim tão fácil. Esquece a Mel, cara, tô te falando.”, as palavras de Kadu foram nítidas em sua cabeça. Rafa lembrou-se de outro trecho da conversa: “Bianca é a maior fofoqueira, mano! Se bem que dizem que tudo o que ela espalha é sempre verdade...”
O ódio começou a ferver em suas veias. Não estava nem enxergando a face triunfante de Bianca. Daniel estava tão bêbado que nem percebeu o mal estar do amigo e continuou a beijá-la.

Rafael andou alguns passos pela calçada, olhou para os lados. Não viu Kadu. Provavelmente, foi junto com a ambulância. “Onde Mel também está...” um capetinha com a própria face sibilou em sua cabeça. A raiva tomava cada parte do seu corpo, seus braços chegavam a formigar. A pele queimava em chamas vivas de ódio. Cenas de morte passaram pela mente, desejou ter uma faca, uma tesoura, um revólver, qualquer coisa, da próxima vez que encontrasse com Kadu.

~ Ѽ ~

- Como pude deixar isso acontecer? - Gemeu Vicky enquanto espremia o seu rosto, ainda inchado contra o travesseiro. - Aquela ordinária ainda vai me pagar! - Continuava a reclamar enquanto se ajeitava melhor na cama do seu quarto, puxando os lençóis azulados até a cabeça, embora não tivesse mais ninguém no quarto o desejo de se esconder ainda continuava forte.
Seus cabelos claros e lisos estavam completamente bagunçados, sua face, apesar de ainda não ter retomado a impecável aparência original, estava bem menos avermelhada. Percebeu que estava tão aterrorizada com a própria desgraça que já não parava para pensar sobre a amiga que havia desmaiado no dia anterior.
Ah, com toda a certeza Mel entenderia. Afinal era o rosto de Vitória que estava passando por péssimos bocados, o que seria mais importante? De qualquer forma já havia se convencido de que Mellanie estava apenas com algum tipo de intoxicação e logo melhoraria, ao menos era no que a loira queria acreditar.

Havia faltado na escola, pois logo teria que se levantar, tomar coragem e ir até o hospital para que dessem uma outra olhada na alergia que fizera sua garganta inchar ao ponto de quase não haver espaço para a passagem de ar na noite anterior. Mas como iria encarar o mundo com o rosto daquela maneira? É claro que não estava tão ruim como na noite anterior, mas as marcas ainda eram presentes na pele outrora lisa e macia.

Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta do quarto foi aberta por um enorme buquê de flores cor-de-rosa. Vitória teve que piscar duas vezes antes de perceber que a empregada estava escondida atrás do arranjo floral.

- Senhorita Medeiros? Desculpe-me interrompê-la, mas esse buquê chegou mais cedo e não quis acordá-la... – Disse, desajeitada, enquanto depositava as flores na cama ampla. Vicky deu um gritinho animado.

- Não acredito que Kadu me mandou as rosas! E, cor-de-rosa, minha cor favorita! – Levantou-se animada até esquecendo-se, temporariamente, das marcas de alergia. – Não é lindo, Fátima? Não é lindo quando o romantismo não se perde em uma relação mesmo com o passar do tempo? – Perguntou, enquanto esticava o braço para alcançar o cartão preso por uma fita branca ao caule de uma das flores.

Em uma caligrafia fina e tinta preta estavam escritas somente 5 palavras:

“Espero que esteja melhor,
Alex”

Vitória piscou os olhos novamente, incrédula. Não sabia exatamente se estava louca da vida, feliz ou frustrada. Como o Kadu pôde fazer isso? Não a acompanhou até o hospital ontem, não ligou para saber notícias e nem sequer mandou um cartão! Estava cansada do descaso dele com a relação amorosa que construíram ao longo de alguns anos. “A verdade é essa, Vi, ele não liga pra você”, constatou uma voz em sua cabeça. As flores do Alex, contudo, eram lindas! E ele, apesar de frio e fechado, esteve com ela praticamente a noite de ontem inteira (contra a vontade dela, claro, que não queria ser vista com o rosto naquele estado), mas mesmo assim, foi uma atitude fofa... Isso a alegrou um pouco. Mas, qual é! “Espero que esteja melhor”? Será que não havia nada mais caloroso e agradável para escrever em um cartão?

- Algum problema, senhorita? – Fátima perguntou, desconcertada, diante do silêncio da patroa, que ainda segurava o cartão nas mãos.

- Não, não... – Ajeitou-se ela logo. – Traga-me o telefone, vou ligar para agradecer.

~ Ѽ ~

Alex escutou o toque tão familiar do próprio celular, franziu as sobrancelhas ao olhar o identificador de chamadas.

- O que você quer?

- Onde você está? – Perguntou a voz do pai, séria.

- Não é da sua conta.

- Até quando vai ficar nessa palhaçada de não dormir em casa? Você não pensa, Alex? Não tem dó da sua mãe? Ela está em frangalhos desde que você sumiu. – Aumentou o tom de voz. O filho realmente o tirava do sério.

- Ah, eu tenho certeza que ela já bebeu muito prosecco de tanta tristeza, não é? – Debochou. – O que você quer?
- Quero te avisar que recebi a visita de dois policiais hoje. Você tem idéia do quanto isso pode me atrapalhar? Se a imprensa vir a autoridade visitando a minha casa com freqüência, vão me arruinar! Achei que tinha conseguido enterrar esse caso, mas me parece que é bem mais sério do que eu imaginava.

- E você quer que eu faça o quê?

- Já que você não mora mais aqui, não tenho o dever de receber as suas encrencas que tocam a minha campainha, entendeu? Eles estão procurando por você, acho que querem ouvir de você o que houve aquele dia no penhasco. E acho bom você dar logo a sua versão antes que se torne um foragido, ouviu Alex? Acho bom mesmo, se você se tornar um foragido, não tenho certeza se ainda o quero como filho! Porque não segue o exemplo do seu irmão, meu Deus? – Alex desligou o telefone antes que o sermão começasse. É claro que sabia que era uma tremenda falta de educação, mas a sua família o deixava maluco. O telefone tocou de novo.

- O que você quer agora? – Perguntou, já nervoso, com o volume da voz alterado.

- Calma, só queria agradecer o presente... – Disse a loira, espantada com tamanha grosseria.

- Ah, oi... Vitória, desculpa, achei que era outra pessoa... Como está se sentindo?

- Estou bem, obrigada. Quero dizer, ainda tem marcas no meu rosto, mas a falta de ar passou. Onde você está?

- No hospital, ainda não liberaram a Mel. – Vitória assustou-se, como uma intoxicação alimentar poderia fazer com que Mel ficasse 12 horas num hospital?

- Como assim? Como ela está? – Perguntou, preocupada.

- Viva, ainda bem. Uma grave hemorragia intra-uterina, até onde sabem. O médico me disse que ela está sangrando por dentro, não tem certeza se é só o útero.

- O que? Como assim? Alex, eu não estou entendendo! – As mãos começaram a tremer, estava apavorada.

- Sim, parece que ela exagerou na pílula. Tomou quantidade maior do que deveria tomar... Pra idade dela, sabe? É bem novinha.

- Que pílula? – Vitória sacudiu a cabeça, tentando entender. Não sabia se era porque tinha acabado de acordar, mas não se lembrava de pílula nenhuma e certamente não sabia o porquê dessa hemorragia repentina.

- Pílulas do dia seguinte, Vick... Mel interrompeu uma possível gravidez.

Seu queixo caiu, não podia acreditar. Não era possível, Alex estava se confundindo. Não era verdade. Não mesmo.
- Oi Alex! Quanto tempo!

- Quem está aí? – A loira perguntou diante da voz feminina que ouvira do outro lado da linha. Alex virou-se.

- Ah! É a Milla! Vick, quando eu tiver mais notícias te ligo, tudo bem? Até depois. – Desligou o telefone antes que ela pudesse se despedir.

- O que está fazendo aqui, Alex? – Perguntou a garota de cabelos castanhos animada com o encontro inesperado.

- Estou... Hum... Acompanhando uma amiga.

- Ah... – Respondeu ela, percebendo que ele não queria comentar muito sobre o assunto.

- E você? Já te deram alta ou você ainda...

- Não, não! Já voltei pra casa! Vim pegar o resultado de um exame. – Levantou a mão esquerda mostrando um envelope.

- Mas... Está tudo bem? – Perguntou, preocupado.

- Sim, sim! Parece que foi só uma batidinha mesmo com a cabeça, nada de mais, sabe? – Alex suspirou de alívio ao ouvir isso.

- Que ótimo. Muito bom mesmo!

- Ei, escuta... Você já tomou café? Eu vim só pegar isso aqui mesmo, aí a gente podia, você sabe, comer alguma coisa...

- Não, eu não acho uma boa idéia, Milla, desculpa. – Foi impossível esconder a face da frustração ao receber essa resposta.

- Por que?

- Acho que a gente, bem, acho que não deveríamos mais andar juntos... – Ela arregalou os olhos, confusa. – ...por um tempo. – Acrescentou ele, cuidando para que ela não se sentisse ofendida.

- Aconteceu alguma coisa? Qual é o problema? – Perguntou, rapidamente, devido ao nervosismo.

- Então você não sabe?

- Não sei do quê? – Ela ficava mais confusa a cada instante.

- É que... Estão achando que você não caiu daquela pedra.

- Como não? Claro que caí! – Protestou com fervor.

- Acham que você foi jogada... – Ele olhou para baixo. – Que eu te joguei.

- O que? Que absurdo! Quem inventou isso? – Ela colocou a mão direita sobre a cabeça, apavorada. – Não é verdade! Foi um acidente! É por isso que me disseram que enquanto eu estava desacordada, um oficial veio me procurar!

- Certamente. Não sei quem inventou, Vick me disse que foi uma das garotas do colégio, bem, o boato ficou sério demais. – Respondeu ele, sério. – Então, acho que, até acertarmos essas coisas, deveríamos ficar afastados. Desculpa, Milla. Vejo você depois. – Ele a abandonou no meio do corredor e entrou em outro para poupar uma discussão maior. Se tivesse que cortar as relações com ela, que fosse rápido como quando se tira um band-aid, a demora aumenta a dor. É claro que não queria deixá-la, fora sua primeira amiga na escola nova e, mesmo a conhecendo por tão pouco tempo, já sentia um carinho enorme. Era uma amizade verdadeira, mas lembrou-se de uma frase do seu velho avô “A primeira virtude de um homem é o caráter” e depois acrescentou “Não sou um criminoso”.

Camilla sentiu-se um pouco tonta, não estava acreditando naquilo. Estava morrendo de medo no primeiro dia de aula, sabia que não iria se dar bem em um colégio de elite. Foi debochada no primeiro dia de aula e ele foi o único que a defendeu, mas e agora? Não tinha mais ninguém. Ele era o único com quem podia contar em uma selva onde só os fortes sobrevivem. E, não era só isso, estava começando a sentir um pouco de, como poderia explicar? Um sentimento que misturava admiração e necessidade. Seria amor? Em contraponto o ódio fez com que suas mãos tremessem, iria achar quem inventou esse boato. Iria achar a responsável pelo afastamento da única pessoa com quem se importava no mundo. E essa fofoqueira iria pagar.

~ Ѽ ~

Mandy passava, suavemente, a geléia de laranja na torrada, olhando, satisfeita, o seu farto café da manhã, haviam frutas, pães, leite e suco de abacaxi que serviam, não só de alimento, como também de decoração para a mesa, apesar do pouco apetite. O intervalo parecia, estranhamente, harmonioso e quieto. Talvez fosse a falta de alguns dos alunos, talvez fosse o bom sentimento de vitória na batalha da noite passada. Jacky ainda estava cabisbaixa, nem tocou na salada de frutas exóticas que encomendou do Egito. Bianca, por outro lado, estava animada e tagarela como sempre.

-Adoro geléia de laranja... me lembra damasco – Mandy sorriu levando a torrada até a boca, saboreando-a como jamais havia saboreado qualquer outra.

-Aposto que ela ainda deve estar vermelha como um pimentão! - Gargalhou Bianca enquanto bebia o suco de amora. Mandy somente outra vez.

- Só não entendi porque Mellanie e Alex faltaram também... O que seria isso? Solidariedade conjunta? – Soltou uma breve risadinha fina como a própria voz. Bianca riu também.

- Rafa também faltou. – Corrigiu Jacky entristecida, ainda olhando para baixo, brincando com a espátula de geléia entre os dedos. Mandy não respondeu. Não sabia o que dizer para a melhor amiga. Na verdade, ela não entendia porque Jacky estava daquele jeito. Estava praticamente um zumbi desde que Rafa terminou o namoro, não sabia mais como animá-la. Mandy duvidava a existência do amor, para ela, as pessoas somente ficavam juntas por conveniência, por egoísmo. Ficam com uma pessoa única e exclusivamente porque aquela pessoa faz bem a você mesmo, só.

- E então garotas, quem vai na minha festa no sábado? – Mandy perguntou com falsa animação para tentar embalar Jaqueline no espírito.

- Eu vou! – Respondeu Bianca de imediato. – Tem algum tema?

- Hum... Ainda não pensei muito nisso. – Respondeu rispidamente, tentando cortá-la. Mandy não considerava Bianca sua amiga, era somente uma garota influente no colégio que sempre estava a par de tudo o que acontecia. Era uma boa fonte de informações, mais nada. – E você, Jack?

- Não sei bem... Provavelmente você vai convidar todos, certo?

- Claro, vou fazer questão de que todos, inclusive as insuportáveis, vejam o meu prestígio. Depois de sábado, Vitória vai se envergonhar da festa que deu ontem.

- Mel e Rafa vão estar lá. Não quero ir. Ele pensa que eu não vejo os olhares que dá para aquelazinha. E, agora que terminamos, vai levar um piscar de olhos até que eles fiquem para lá e para cá de mãos dadas. – Essa era a coisa mais longa que ela disse em dias. “Deve estar melhorando”, Mandy pensou.

- Jack, já conversamos sobre isso. Você tem que deixar o Rafa pra lá. Sempre o achei muito tosco, sem contar mal educado, com aquela frieza toda. Ele terminou, acabou, pronto. Você é linda, pode arrumar um príncipe inglês se quiser.

- Você não entende! É muito fácil pra você falar pra eu esquecer o Rafa, não é você que dedicou meses da sua vida por ele, pra depois ser largada assim, do nada!

- Dedicou porque quis! Eu sempre te alertei sobre isso, sempre te falei que ele não retribuía com a mesma intensidade seus sentimentos! – Mandy esganiçou, com a voz fininha.

- Então agora está me chamando de idiota porque nem sempre sigo o que você diz? – Jacky retrucou, levantando o tom de voz.

- Não, estou dizendo o lendário “eu te avisei”! – Respondeu a outra, se defendendo.

- Mas como eu poderia saber, porcaria? A verdade é que começamos essa história por interesse dos nossos pais, mas eu me apaixonei!

- Agora sim estou te chamando de idiota!

- Como você ousa? – Jacky levantou-se da cadeira. As pessoas que estavam no recreio nem se incomodaram com a gritaria. Por incrível que pareça, mesmo o colégio sendo um local de alta classe, barracos faziam parte do cotidiano.

- Estou falando a verdade, se não pode aceitar, é problema seu. – Mandy levantou-se também. – E, aliás, tem muita coisa que você não consegue aceitar, não é Jacky? Como por exemplo, que seu namoro está terminado. Ouviu? Terminado!

- Acho que não sou eu que tenho problemas com a verdade aqui!

- O que quer dizer?

- “Ai, eu sou a Amanda, eu nunca me envolvi de verdade com ninguém e não acredito no amor porque meu papaizinho largou minha mamãe e eu para fugir com outra!” – Jacky fez falsete com a voz.

- Ordinária!

- Frígida!

- Mel engravidou. – Bianca disse, finalmente. Já tinha se divertido demais com aquela discussão e as pessoas estavam começando a olhar demais.

As duas arregalaram os olhos no mesmo instante, Mandy se sentou. Realmente não esperava por essa. Jacky continuou de pé, encarou Bianca.

- O que? – A voz estava trêmula. – Quem é o pai? – Estava com medo de fazer essa pergunta, talvez não tivesse forças para aceitar...

- Quem ERA o pai, você quis dizer. – Bianca corrigiu, em tom baixo, passando um pouco de geléia em uma torrada. Respondeu com tanta calma que parecia que estava respondendo a costumeira pergunta “será que hoje vai chover?”.

- Perdeu o filho, então? – Mandy quis se certificar de que tinha entendido corretamente.

- Abortou. – Respondeu a outra ainda sem nem olhar para as duas. – Quero dizer, não foi realmente um aborto, aborto... Ela tirou antes que o negócio crescesse. Pílulas do dia seguinte, digo. – Jacky finalmente se sentou.

- Você ainda não me respondeu. – Disse, tentando controlar o nervosismo.

- Kadu.

Sentiu vontade de sorrir pela primeira vez em dias. Tinha certeza que, depois dessa, seu namoro não estava tão acabado assim.

~ Ѽ ~
Vitória já estava pronta, tinha tomado banho, trocado de roupa e tentado disfarçar algumas manchas com corretivo facial, é claro. Iria ao hospital para se certificar de que ficaria tudo bem com a pele e aproveitara para ver Mellanie, mas antes, precisava confirmar os fatos. Pegou o celular e vasculhou a agenda na busca de um número que fosse confiável. Discou. Ela deveria atender, estava na hora do intervalo.

- Alô? Tânia?

- Oi? – Respondeu a garota do outro lado da linha. – Quem é?

- É a Vitória. Da festa, se lembra?

- Claro, claro! Desculpa não ter reconhecido a voz, é que...

- Não, tudo bem! – A garota já tinha começado com os “desculpas”. – Escuta, eu percebi que você tinha interesse em participar mais do nosso grupinho e tal...

- Ah, tenho sim! – Respondeu rapidamente.

- Então... – Continuou a outra, ignorando a interrupção. – Pois é, eu estive meio doente ontem e...

- É, eu fiquei sabendo, que pena! – Interrompeu novamente. Vicky já estava ficando irritada.

- Pois é, então eu não pude acompanhar uns acontecimentos, será que você poderia me deixar a par de algumas coisas?

- Claro, só me diga o que quer saber! – Estava prontificada a ajudar Vicky, sempre quis fazer parte da “panelinha”.

- Você sabe de algo sobre a Mel? Por que ela está internada?

- Bem, a Bianca acabou de dizer para quem quisesse ouvir que Mellanie estava grávida e que tentou abortar. – “Então é verdade”, pensou. Seus sentimentos estavam, novamente, misturados.

- Quem é o pai, você sabe?

- O Kadu. – Tânia fechou os olhos ao dar essa notícia, imaginou a fúria da loira quebrando o telefone na sua cabeça.

- Está bem, obrigada. – Disse com educação. – Nos vemos depois.

- Beijos.

Vicky olhou para baixo. Estava atordoada, era muita coisa inesperada acontecendo ao mesmo tempo. Quando será que tudo vai se ajeitar? O ódio estava a consumindo, não poderia ficar ali, no seu quarto, nem mais um minuto. Pegou a bolsa e saiu. Desceu as escadas correndo, abaixo delas, havia outra surpresa.

- O que você está fazendo aqui?

- Assim que eu ouvi os boatos lá no colégio uns 20 minutos atrás, vim me explicar. Professor de matemática que me desculpe.

- Não quero saber de você! Quem te deixou entrar? – Estava começando a ficar alterada.

- Sou seu namorado há anos, não me barram mais na entrada.

- Não te barravam, né meu filho? Não te barravam! – Gritou ela. – Vou avisar agorinha mesmo que você está proibido por aqui.

- Vick, raciocine, isso é pura mentira. Como eu poderia engravidar a sua melhor amiga? Não faz drama! Se me dissessem que tem um elefante cor-de-rosa fazendo malabarismos com fogo, seria mais provável de acreditar do que isso!

- Eu não quero saber das suas explicações. E eu estava de saída, você vai se retirar por bem ou vou precisar chamar alguém para te expulsar daqui?

- Então é assim? Depois de anos de namoro, você vai preferir acreditar numa fofoca que em mim? – Perguntou, incrédulo.

- Ah, claro! Anos de namoro, de carinho, de dedicação máxima, não é Kadu? – Constatou ironicamente.

- Pode ser que não tenha sido assim. Pode ser que não, mas nosso namoro sempre foi harmonioso e pacífico. A gente nunca chegou nem a ficar sem se falar, nem a brigar sério um com o outro, sempre nos demos muito bem e você vai jogar isso tudo fora por causa de um boato?

- Sabe por que a gente não briga, Carlos? Porque a gente não ta nem aí um pro outro, a gente não se importa. Nosso namoro é viajar um pouco nas férias, dar uns amassos em qualquer lugar e só. A gente não conversa, a gente não ri, a gente não se diverte...

- Mentira! Eu me divirto com você!

- Ah é? Fazendo o quê? Sexo é que não é!

- Mas você mesma disse que não queria! A gente podia fazer...

- Não, porque aí nosso namoro não seria mais só beijos, seria só sexo. E não é o que eu quero pra mim.

- Você está dramatizando! Claro que eu ligo pra você! – Contestou ele, já sem ter o que falar.

- Liga? Eu quase morri ontem, minha garganta inchou a ponto de fechar, você não foi comigo na ambulância, não foi lá me ver, não me ligou hoje de manhã e eu recebi flores, mas adivinha só! Não eram suas!

- De quem eram? – Perguntou ele em um tom bravo.

- E agora a primeira coisa que eu ouço na manhã que você engravidou a Mel! Acabou, Kadu. – Ela colocou os óculos de sol antes de sair ligeiramente pela gigantesca porta principal. Entrou em um carro que já estava parado na porta da mansão e disse ao motorista a direção. Ele não teve tempo de se explicar.

~ Ѽ ~

- Oi. Que bom que te encontrei acordada.

- Oi! – Respondeu Mellanie, vendo a figura da melhor amiga. Tinha cansado de ficar sozinha a manhã toda.

- Como se sente? – Perguntou friamente.

- Bem, obrigada.

- Olha, eu vim te dizer que preferia se, daqui em diante, você ficasse longe de mim.

- O que? Por que? – Mel ficou assustada, fez menção de levantar-se do leito, mas Vitória colocou a mão sobre seu peito e a fez continuar deitada.

- O boato que corre por aí é que você estava grávida... – Abriu as persianas das janelas do quarto - ...do kadu.

- Isso é ridículo! - Alterou-se – Vi, eu juro pra você, amiga, eu nunca tive nada com o Kadu. Nada!

- Eu sei.

- Então por que...?

- Você acha que se minha melhor amiga estivesse tendo um caso com o meu namorado eu não iria saber? Claro que eu sei que não era do Kadu. Era do Rafa não é? – Ela fechou os olhos e abaixou a cabeça. – Meu Deus, Mellanie! Por favor, não quero mais saber de você.

- Se você disse que não acreditou, então por que está...?

- Por que? Você ainda tem coragem de me perguntar o porquê? Mellanie, eu te considerei minha melhor amiga, te contei tudo, meus segredos, meus desejos, meus sonhos e até minhas “conversas” entre quatro paredes com o meu namorado! Te contei meus receios sobre sexo, tudo! Eu confiava em você, Mel! E aí você fica grávida do melhor amigo do meu namorado e, ainda por cima, na chácara da minha família e me diz que é intoxicação alimentar?
- Como você sabe que foi...

- Na chácara da minha família? Pelo amor de Deus, Mellanie! Eu posso me fazer de sonsa, mas eu não sou! Eu sei contar, pra você ter tomado pílula do dia seguinte só pode ter sido aquele dia! E também percebi a mudança no seu comportamento. Mas isso não é importante. O que me deixou fula da vida é que você não confia em mim! Eu deveria ser a primeira a saber, mas fico sabendo por uma figurante chamada Tânia que ouviu tudo da boca da Bianca! Pra mim não dá mais, Mellanie. Nossa amizade termina aqui. Eu poderia perdoar tudo, mas confiança é a base de qualquer relacionamento. Se você não tem confiança, você não tem nada.

- Vick, mas eu confio em você... – Mellanie tentou discutir, mas estava fraca. Mal conseguia manter os olhos abertos e a voz firme.

- Se confiasse, teria me contado. Não teria mentido sobre uma coisa tão importante. Enfim, vim só te falar isso. Desculpe ter vindo dizer tudo com você nessa situação, mas eu precisava colocar um fim logo. Adeus. – E saiu do quarto antes que a primeira lágrima escorresse pela sua face.

~ Ѽ ~

- Eu sabia que iria te encontrar aqui... – Kadu disse para uma figura alta e loira que estava arremessando freneticamente uma bola de basquete alaranjada na cesta. Não acertara nenhuma.

- Pois não? – Rafa perguntou, sem nem encarar o ex - melhor amigo.

- Precisamos conversar! – Kadu gritou para um Rafael que parecia não ouvir. Escutou o eco de sua voz na quadra vazia.

- Interessante. – Respondeu depois de vários minutos. – Conversar sobre o quê?

- Você sabe sobre o quê! – Respondeu o outro, chegando mais perto.

- Tem razão. – Rafa soltou a bola e virou-se para encará-lo. – Sei. – Colocou a mão direita sobre o bolso de trás e apertou o canivete que lá se encontrava.

~ Ѽ ~

This entry was posted on terça-feira, dezembro 16, 2008 . You can leave a response and follow any responses to this entry through the Assinar: Postar comentários (Atom) .

18 comentários

Novela MARA! Amo ♥

Até que fim o 7º cap.
Ficou muuito bom, adorei

Nossa, e agora???? achu q o rafa bvai matar ele!!!

aaai que boom que postou *-* tava sentindo falta ja! por favor nao demore a postar denovo :(
´tá óótima! parabens! beijos

Cara Bianca muito nojenta! Destruiu todo um grupo de amigos, odeio fofoqueiras! :@

p.s: não demora tanto pra postar!

Amoo de paixao essa novela .!
*Bianca é muito nojenta (2

Por favor, não demora pra postar.

Bjos.

Ameiii (!)

Marah essa nOvelah!!
=)

bjok's!
ps.: ñn demorah a postar d-nOvuh ñn tah?! essa novelah já virou indispensavel! xD =*

♥Maravilhosa essa novela!
só naum demora muita a post
se naum eu morre de curiosidade!!!!♥

Amei esse capitulo. Cara tou odiando a Bianca, que garota insurpotavel.

aaah eu só vou ler quando acabar porque aí eu leio tudo de novo porq eu ja ate esqueci do que se trata a novela =/

Ameii o 7º capitulo‼

Melhor qe todos‼

Gente, cadê o próximo capitulo?

E aí, morreu? o.O

precisa dizer algo??? PERFEITO!

Poxa ate legal o Blog, mas vc demora d+ a postar e issu desistimula!

Dica:
Nem que poste capitulos menores, mas tenta postar com frequencia, garanto que ira ficar bem melhor.

to ficando com raiva da Bianca!!!
mal posso esperar pelo proximo capitulo!!!
beijim

- Adoroo essa novela, posta mais por favor

quando vai ter um capitulo novo???

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